sábado, 25 de junho de 2011

O Reino Glorioso do Corpo Físico


O Reino Glorioso do Corpo Físico

 trecho da palestra "Sexo e Obsessão", de Divaldo Pereira Franco


(...) na conversação, ele (Chico Xavier) narrou-me que quando mais jovem, sendo alguém portador de uma energia muito poderosa, já que viera equipado de recursos para o exercício da mediunidade (não estava no seu programa uma união matrimonial, todo o tempo disponível ele deveria canalizar para as atividades à família universal) ele começou, logo após a adolescência, a experimentar as constrições impostas ao organismo pela libido sexual.

E não sabendo como proceder, nos recuados anos entre 1920 e 1930, ele saía pelos bosques da região de Pedro Leopoldo para caminhar, queimar as energias, até chegar à exaustão, para dessa maneira liberar-se do excesso de vitalidade, das forças genésicas que então produziam de alguma forma o estímulo das suprarrenais com suas descargas de adrenalina na corrente sanguínea.

Certa ocasião, a sua mente começou a pensar na necessidade de uma companhia. E porque sabia não estar no seu esquema o consórcio matrimonial dentro das leis éticas e das determinações evangélicas, ele perguntou a Emmanuel qual seria a sua conduta.

E o benfeitor depois de ouvir-lhe a justa interrogação, contou-lhe uma parábola.

***

Havia um rei que morava em um país aonde tudo era abundante. E a fartura desdobrava-se em rios de generosidade para todos os seus habitantes...


Passaram-se os anos, e os habitantes multiplicaram-se. A produção de recursos começou a diminuir. E em breve, alastrou-se a fome. Nas regiões periféricas do Reino, a fome começou a ceifar algumas vidas. Então, um ministro que era muito vigilante, falou à sua majestade:

– O povo tem fome. E como o estomago não tem moral nem ética, estamos diante de um grave momento da governança neste reino.

O rei, porém, que estava muito bem nutrido, a sua era uma mesa com uma refeição opípara, rica, de acepipes variados, não deu a importância devida.

Mais tarde, a fome adentrou-se pela cidade. E o rei, receando problemas mais graves, mandou ampliar os celeiros e fez grandes reservas de alimentos para os exércitos, porque temia que povos vizinhos, invariavelmente adversários que lhe ameaçaram a soberania, pudessem vestir contra o reino debilitado pela fome. Assim, pelo menos o exercito estaria em condições de defender a população.

Mas o cerco dos esfomeados fez-se cada dia mais vigoroso, chegando a ameaçar a estabilidade da coroa. O sábio ministro sugeria ao rei que tomasse providências, que encaminhasse parte das reservas dos soldados para o povo. Afinal, um povo bem atendido é um voluntário soldado do bem. 

Mas o rei obstinadamente negava, até que certo dia, enquanto fazia a refeição, uma pedra atravessou a vidraça da porta, e caiu sobre a mesa farta. O rei assustou-se e o ministro lhe disse: 

– Estamos sitiados. O povo esfomeado cercou a casa palaciana. E nesse estado de ira e necessidade, vai invadir o palácio e provavelmente o povo em angústia irá ceifar a vida do seu rei, que não se está preocupando com a sua miséria.
O rei começou a ouvir a gritaria, as palavras agressivas, as ameaças. E então perguntou ao ministro:

–  O que fazer, se é que ainda posso fazer alguma coisa?

O ministro reflexionou um pouco e disse: 

– Aproxime-se da sacada, fale à multidão.

E o Rei, temerário pela consciência de culpa e temeroso, disse:

– Mas eu não teria coragem. Eles apredrejar-me-ão e, claro, eu poderei ter a minha vida ceifada com um tiro ou uma paulada de algum mais intempestivo.

– É o risco que sua majestade deve correr, em decorrência da sua negligencia. Eu adverti à sua majestade desde a muito, mas a sua obstinação não permitiu que houvesse equilíbrio nem paz. A única alternativa é essa.

Uma nova pedra agora varou a vidraça da janela, e caiu próxima ao rei.

Ele encorajou-se, mandou que alguns dos áulicos tocassem os clarins para acalmarem a massa, e apareceu diante da sacada. A gritaria foi infrene. O povo desesperado vaiou-o demoradamente, mas ele permaneceu impertérrito, olhando a multidão até que alguém disse:

– Pelo menos deixemo-lo falar! Parece que ele tem alguma coisa a dizer. Dêmos-lhe a chance que ele nos negou!

E no silencio, que se fez natural, ele começou a explicar:

– Não creiam os meus súditos que a tarefa de um rei seja tão simples. Administrar um reino é um desafio á sabedoria. Não suponham que é muito fácil a vida de um rei. Além dos deveres administrativos, ele tem também os seus compromissos pessoais. Das lutas diplomáticas que deve travar contra os países coirmãos, ou adversários, ele tem também em si próprio muitos conflitos para equacionar. Talvez o meu povo inveje a mesa farta, mas por certo não invejara as minhas noites de insônia, as minhas dificuldades para conciliar o sono quando vejo a seca atormentar as terras do meu país que são aráveis e a ausência de grãos ameaçar-nos a vida. 

E falou, e falou a verdade. Falou com lealdade. Despiu-se daquela aparência de um ser arquipoderoso... Então no meio da multidão alguém disse:

– Pobre do rei... Ele não é tão feliz como eu imaginava.

E outrem:

– Se é possível ajudemos o nosso rei...

E mais alguém: 

– Demos-lhe oportunidade de governar-nos com sabedoria. Demo-nos as mãos, e perguntemos ao nosso rei o que deveremos fazer.

E ele nos dias que se seguiram estabeleceu com um dos seus ministros um programa de trabalho, de atendimento às misérias e necessidades. E aquela força desorganizada que conspirava contra a sua vida passou a trabalhar pela felicidade dele e do seu reino.

***

Emmanuel encerrava aqui a sua história, e Chico me disse:

– Ao conclui-la, o benfeitor olhou-me e afirmou-me: aí está a minha resposta.

E com a sua natural bonomia e simplicidade, Chico Xavier interrogou esclarecendo:

– Não entendi nada! O que tem isso a ver com meus conflitos sexuais?

E Emmanuel redarguiu: 

– Tu eras o rei feliz. Neste reino glorioso que é o corpo, enquanto eram tuas as forças juvenis, e ele se autosatisfazia pela troca, pela permuta de energias, e a mitose celular dava-se enriquecida pelo fluido vital que caracteriza a tua existência, tudo marchava muito bem. Chegou, no entanto, o momento em que as glândulas endócrinas encarregadas da aparelhagem genital começaram a pedir às glândulas seminais substâncias para o seu equilíbrio hormonal, e em breve, varias células, pela tua negativa de oferecer-lhes intercâmbios de hormônios físicos e psíquicos, começaram a experimentar carência. À semelhança do rei, buscaste refugio na intimidade palaciana do teu cérebro, e deixaste o corpo entregue à fome das funções fisiológicas, e às necessidades da sua própria organização. Chega o momento em que sitiam-te à casa mental e gritam-te: "Estamos com fome! E não queremos saber quais são os seus planos a nosso respeito!". Só há uma alternativa: ou dá-lhes alimentação, que reservas para o teu futuro, para os teus ideais, para defender-te da agressão do mal (os adversários dos países vizinhos dos teus dias transatos) ou vens à sacada da consciência para uma conversa franca.

– É necessário que cerres os olhos, que mergulhes no teu mundo na área do subconsciente, e dialogues com as tuas células, que lhes diga: "O que é que vocês estão pensando? Eu sou um rei carente! A minha célula de residência sofre a carência de vitalidade. Ajudem-me! Eu tenho algo o que fazer e não realizarei sozinho, se a sua fome sitiar os meus sentimentos mais elevados. Socorram-me! Eu sou um rei porque alguém um dia destacou-me um ancestral para governar o reino em que me encontro. A divindade deu-me este corpo, que não é meu. É um traje do qual eu sou um mordomo. Porque não posso utilizar conforme gostaria. Agora mesmo dependo dele que não depende de mim. E necessito que vocês me ajudem".

Então Chico Xavier concluiu com os olhos banhados de lágrimas:

Naquela noite eu fiz silencio interior, procurei o refúgio da oração, olhei o meu corpo com a visão interior: era um reino. Quantos súditos... 70 trilhões de células! Quantas vias de acesso aos departamentos mais variados... 150 a 180 mil quilômetros de veias, vasos, artérias para a circulação, departamentos de alta significação como a bomba cardíaca, que trabalha sem cessar desde a concepção! 

Então eu fui encontrando as diversas províncias do meu reino, e uma onda de ternura imensa tomou-me todo, do coração ao cérebro, do cérebro aos pés, e eu, procurando entender este mecanismo da maquina celular, imaginei cada célula como sendo uma consciência individual, formando a consciência coletiva do corpo e a minha individualidade formando a consciência geral do cosmos. E debruçado na sacada do meu cérebro, eu disse: 

– Ajudem-me! Eu não posso dar-lhes por enquanto o pão que vocês me pedem, mas eu lhes posso dar um outro tipo de alimento que eu tenho para dar. Se vocês estão necessitadas de expansão e desejam multiplicar-se, nesse mecanismo da cissiparidade ininterrupta, e precisam de energia e de vibração, eu estou disposto a colaborar, para que vocês a seu turno colaborem comigo. 

E abandonando os excessos na corrente sanguínea, que ela suba, irrigue o meu cérebro, todos os capilares, todos os escaninhos, abrindo campo infinito para a superconsciência, a fim de eu poder laborar na psicografia, que é o meu compromisso com a vida.

Então eu peço ao meu departamento genésico que me libere as suas energias excessivas e que as minhas glândulas transformem essas energias em forças para resistência física nas atividades da mediunidade com Jesus...

E assim que eu terminei a minha suplica, ungida de ternura, e de amor pelas minhas células, eu senti que houve uma movimentação no aparelho genésico, uma onda de calor subiu-me, incendiou-me o cérebro, e eu pude entrar no estado de êxtase.

A partir de então, sempre que me advém o cansaço, quando um desgosto qualquer, um problema desafiador me perturba, eu faço silencio interior e digo: 

– Gente, estou com fome! Sitiado no meu castelo, também eu tenho fome. Ajudem-me a vencer os adversários do passado e construir a nossa felicidade para o futuro! 

E as células, que estão em incessante multiplicação, sempre banhadas por uma tépida água levemente salgada, emitem ondas que me revitalizam, e assim posso trabalhar ininterruptamente até 10 horas na mediunidade, com parada das funções fisiológicas, que se aquietam para o ministério do serviço. 
Tudo o que está no universo, são trocas, nada se perde, nada se cria de novo, tudo se transforma (Lavoisier). Nem castração, nem libertinagem. Nem punição ao organismo, nem liberação total, para nos levarem ao desequilíbrio. 

Aprendi então, desde aquele recuado dia, a conversar com o meu povo, no reino que a divindade me colocou para o transito carnal. Nas atividades que tenho abraçado, quando as forças parecem diminuídas, ou quando os prejuízos normais da existência me afetam, eu procuro buscar neste depósito de energias em reserva, energias guardadas para as minhas defesas do futuro, resistências para as necessidades do presente, e digo-lhes: 

– Ajudem-me! Este é um reino de aparência. Eu sou rei de coisa nenhuma. Ajudem-me! Vamos transubstanciar o conteúdo energético na sua finalidade, derivando para a criação, para a reprodução, para a construção, pois que essa é a finalidade genésica: procriar, construir, reconstruir, vitalizar. Não necessariamente em outras formas biológicas, mas especificamente em formas de ideais, que são criações da vida e da divindade através de nós... 

***

Foi Emmanuel quem escreveu: "Fala a criatura ao criador, através da oração. Responde o criador à criatura através da inspiração. Atende o criador a uma outra criatura através daquela que se lhe faz intermediária".

Do grande desafio sexual, poderemos manter muita saúde, se disciplinarmos a nossa mente, como em qualquer setor de natureza fisiológica, podemos disciplinar o nosso organismo para estabelecer horários para as suas funções, com equilíbrio, com harmonia. Porque a função genésica deve ser disparatada e pode permitir-se o direito de estar ao alcance do nosso desequilíbrio. Não é a função, é o rei que a comanda. Do cérebro para as glândulas genésicas.

É necessário que aprendamos a descer do cérebro do nosso pedestal, de pessoas poderosas que negamos ou de pessoas frívolas que liberamos. 

A fonte muito visitada pelo balde, cujo minadouro tem um poder relativo de produção, termina secando as suas aguas. É necessário, portanto, que chuva generosa caia na superfície da terra para que, absorvida pelo solo, traga as nascentes que minam na fonte: a água necessária para que ela possa atingir a borda.
 
fonte: espírita do terceiro milenio
 
 
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Irene Ibelli   
 

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