Como podemos deixar que os objetos, que deveriam nos servir, passem a ser desesperadamente perseguidos por nós, como se fossem uma meta em si próprios? Ter, ter e mais ter, para quê? Nas ruas, no trabalho, no contato com os outros, não há mais tempo para sentir a vida. Tudo precisa ser rapidamente consumido: refeições, atividades, tarefas. O dia, que vemos voar, deixa-nos cada vez mais a sensação de vazio, de dever não cumprido, porque se tornou muito curto diante das nossas obrigações.
Assim, a vida é inutilmente queimada no fogo da vaidade, da ganância, da futilidade, tornando-se insuportavelmente fugaz. Como se fosse grão de areia, escapa entre nossos dedos e chega ao fim sem ter sido realmente vivida. A conseqüência do ter, em detrimento do ser, é o esvaziamento moral, afetivo e espiritual. Sentimos a frieza do outro, sua falta de calor, de respeito e, principalmente, de amor, sem perceber que também somos condutores de frieza e de ausência de afeto. O homem destrói por ganância o meio em que vive. Predador e cruel, importa-se apenas com o lucro que poderá auferir. Os meios de propaganda, com apelos cada vez maiores e mais fortes na direção do consumo, tornaram-se os reais condutores de nossas existências. Somos seus meros escravos.
É preciso parar para pensar no que precisa ser feito diante disso tudo: buscar nas profundezas do nosso ser o antídoto que nos permita ser e não apenas ter, refletir sobre a maneira como conduzimos a vida e o nosso relacionamento com os outros, meditar sobre os valores que devem dar real valor à nossa existência, repudiando aqueles que nos são impostos.
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