Editor: Prezado Irmão, fale-nos sobre a sua iniciação na Doutrina Espírita.
R: Agradeço à minha querida mãezinha, Eugênia de Oliveira e Souza, desencarnada em 27 de setembro de 1995, com a idade de 85 anos, a oportunidade de entrar em contato com a maravilhosa Doutrina Espírita, codificada pelo Mestre Allan Kardec. Em 1943 era eu um garoto de 10 anos, quando minha mãe, jovem de 33 anos, começou a apresentar sintomas evidentes da sua mediunidade: gozava de boa saúde, mas com freqüência, repentinamente, ficava doente, gemendo de dores na cama, impossibilitada de executar os seus afazeres domésticos. Procurava os médicos, mas nenhuma doença material era diagnosticada. Tratava-se de Espíritos sofredores que a envolviam com o intuito, naturalmente, de serem ajudados através da mediunidade. Foi quando ela conheceu a Casa de Terezinha de Jesus, onde iria trabalhar como médium, por mais de 50 anos.
Eu e minha irmã Nilza, que na época tinha 13 anos, vínhamos ao Centro, para fazer companhia à nossa mãe. Tivemos a satisfação de conhecer o Sr. Sebastião Borges de Araújo, um dos fundadores e idealizador da Instituição, e que trabalhava também na FEB – Federação Espírita Brasileira, na Avenida Passos 30 – RJ, como médium receitista homeopata.
Atentamente ouvia as explanações doutrinárias das reuniões e como o Espiritismo é Ciência e Filosofia com conseqüências religiosas, e sempre fui fascinado pela Ciência e pela Filosofia, comecei a me interessar pela Doutrina Espírita, passando a estudar as obras básicas de Allan Kardec e, posteriormente, outras de caráter complementar. Aos 18 anos passei também a freqüentar por vários anos a Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de Janeiro, estabelecendo contato com vários médicos e cientistas espíritas da época.
Editor: Como encara o Espiritismo a chegada do terceiro milênio? As catástrofes anunciadas têm algo de verdadeiro?
R: A passagem dos anos, dos séculos e dos milênios é uma simples convenção dos homens para a contagem do tempo. O término do ano de 1999 e o começo do ano 2000, na realidade nada têm de especial. As catástrofes sempre ocorreram e ainda continuarão a ocorrer, como uma necessidade para a evolução do próprio Mundo Terra, porque tudo tem que evoluir na criação divina. Até as estrelas nascem, evoluem e um dia morrem, isto é, sofrem contínuas transformações. Já houve época em que a Terra era um mundo muito primitivo, com muito mais catástrofes do que agora, em que o vulcanismo e os terremotos, por exemplo, eram muito mais intensos e abundantes, provocando, no entanto, menos vítimas porque a Terra era menos habitada.
No passado, alguns continentes ou parte deles, submergiram nos oceanos, como conseqüência da movimentação de camadas interiores da Terra; em contrapartida, extensas regiões oceânicas se elevaram dando origem ao aparecimento de novas porções de terra. Muitas pessoas sucumbiram nestes cataclismos, porque precisavam passar por tal experiência. Fenômenos semelhantes ainda poderão ocorrer na Terra, alterando a geografia da superfície terrena.
O exame geológico do solo e sub-solo brasileiros atesta a existência desses fenômenos em épocas remotas. A cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais, por exemplo, está assente sobre camadas de solo que se depositaram na maior cratera vulcânica do Planeta, cuja "caldeira", antes da sua extinção, tinha cerca de trinta quilômetros de diâmetro; vastas regiões da Amazônia apresentam a mais ou menos mil metros de profundidade, camadas de vinte a trinta metros de espessura de cloreto de sódio( sal de cozinha ), e cloreto de potássio( fertilizante ), com a presença de fósseis marinhos ( peixe ), comprovando que ali já existiu um extenso oceano que, por algum motivo, secou, sedimentando as camadas salinas, que posteriormente foram soterradas por outras camadas de solo.
Independentemente das modificações físicas do nosso Planeta, que ocorrem por grandes cataclismos, sabemos que outras transformações estão em curso no campo espiritual, pois a Terra já está vivendo, de algum tempo para cá e ainda continuará a viver, provavelmente nos próximos séculos, os ajustes necessários para deixar de ser um mundo de provas e expiações, para ser um mundo de regeneração. Neste sentido, a chegada do ano 2000 poderá ser simplesmente escolhida como um marco convencional e simbólico, para registrar tais transformações espirituais, embora o seu início seja anterior e se operem através de várias gerações, quase imperceptivelmente. É uma Nova Era que tem que chegar e já vem chegando, com a separação gradativa do joio e do trigo.
Cada morada da Casa do Pai apresenta uma faixa espiritual vibratória permissível, acolhendo, isto é, imantando os Espíritos que se identificam dentro de tal faixa vibratória de progresso moral. Quando dizemos que a Terra está a passar da categoria de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração, é aquela sua faixa espiritual vibratória permissível que está a se movimentar para frente na escala da evolução. Esta movimentação não é instantânea, mas pelo contrário, vai se operando gradualmente através do tempo, de tal forma que os Espíritos que vão ficando aquém do limite inferior da faixa vibratória permissível, têm que ser retirados para outros mundos, evidentemente, piores do que a Terra. Os Espíritos que na Terra progridem muito, científica e moralmente, ultrapassando o limite superior da faixa espiritual vibratória, já podem ser conduzidos para outras moradas mais evoluídas.
Editor: O nosso mundo está realmente mais violento, como muitos apregoam?
R: É difícil responder afirmativa ou negativamente, porque faltam-nos parâmetros absolutos para as referências.
Infelizmente a violência sempre existiu na Terra. Alguns livros do Velho Testamento relatam muitos atos de violência, guerras, subjugação de povos, assassinatos, escravidão, trabalhos forçados, etc. Até mesmo no Novo Testamento encontramos a violência como , por exemplo, a matança de todos os meninos de dois anos para baixo, na cidade de Belém e suas circunvizinhanças, ordenada pelo rei da Judéia, Herodes, porque temia perder o trono para Jesus, que acabara de nascer(Milhares de meninos foram sacrificados ). A própria prisão e crucificação de Jesus foram atos de extrema violência.
Se consultarmos os livros de História Geral, vamos nos deparar com muita violência: guerras, torturas, escravidão, subjugação e extermínio de povos, inclusive o extermínio de tribos indígenas das Américas. É preciso notar que muita violência praticada no passado, não foi registrada, por deficiência dos meios de comunicação da época. As notícias caminhavam lentamente, muitas vezes de boca em boca, alcançando as pessoas num pequeno raio de ação, pois não existiam jornais, revistas, rádios e televisões. Donde podemos concluir que a violência do passado que conhecemos é apenas parte da realidade.
Hoje, graças ao grande desenvolvimento científico e tecnológico do Século XX ( Satélites artificiais, rádio, televisão, telefonia celular, microcomputador e Internet ), as comunicações entre as pessoas se tornaram mais rápidas e precisas, permitindo a divulgação daquilo que acontece numa pequena parte do Globo, passando a ser do conhecimento de todos, instantaneamente, com todos os detalhes e muitas vezes mesmo, ao vivo.
Desta forma, a quantidade de notícias de violência agora divulgadas, é muito grande, maior do que outrora. Analisando alguns pequenos aspectos, parece que, no todo, a Humanidade melhorou um pouco. Hoje as pessoas vão aos Estádios para assistir competições esportivas e, até mesmo, para participar de Congressos religiosos, encontros de orações; outrora, reuniam-se nos espetáculos circenses para aplaudir os leões devorarem seus irmãos cristãos.
Antigamente éramos canibais, fazíamos churrasquinho dos prisioneiros das tribos indígenas inimigas, capturados nas guerras, e isto aqui mesmo no Brasil, somente há 500 anos; hoje, ainda continuamos a fazer churrasquinhos, só que de animais. No futuro, é certo que aboliremos, por completo, tal prática mas, por enquanto, são apenas reminiscências do passado.
Editor: Qual seria a solução para diminuir a violência?
R: Vejo duas coisas importantes que podem e devem ser feitas para diminuir a violência: Educação e Evangelização. Este duplo trabalho deveria começar com as crianças e os adolescentes, preparando-os para um futuro melhor.
É preciso ensinar as crianças e aos adolescentes que a liberdade de ação é igual para todos e, por isso mesmo, esta liberdade tem que ser responsável. Jamais podemos prejudicar quem quer que seja, isto é, precisamos estar aptos para reconhecer as fronteiras que limitam a nossa liberdade, para não ferir os preceitos da justiça divina. Os nossos direitos não são ilimitados: eles terminam onde os direitos do nosso próximo começam.
A maneira mais fácil de fazer isto é trabalhar as crianças e os adolescentes, ensinando-lhes as boas maneiras, o modo correto de agir em sociedade, dentro dos ensinamentos evangélicos de Jesus, que nos fornecem roteiros preciosos para todas as situações.
Os mesmos ensinamentos são também válidos para os adultos. Só que estes, podem ter passado por uma infância e uma adolescência sem a luminosa oportunidade de uma boa educação e evangelização, condição que, certamente, pode ter propiciado ao adulto a expansão dos seus maus instintos e vícios perniciosos adquiridos em existências passadas. Desta forma, o trabalho de educação e evangelização dos adultos, torna-se mais penoso e demorado, mas não é impossível, e também precisa ser executado.
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