O Espiritismo Perante o Evangelho
JOSÉ SOARES DE ALMEIDA
A Doutrina Espírita não somente nos revela a continuidade da existência
da alma após a sua desencarnação, mas também nos ensina os meios de
desenvolvermos e aperfeiçoarmos a nossa natureza espiritual.
A evolução do nosso Espírito visando a alcançar a máxima perfeição, o
grau supremo de pureza, depende da nossa atuação durante a vida material, ou seja, da prática do bem, do amor fraternal e da caridade. São esses também os princípios fundamentais em que se assenta a doutrina moral das religiões constituídas. Portanto, o Espiritismo não contradiz a doutrina básica de nenhuma religião, ao contrário, vem consolidá-la, demonstrar a sua importância fundamental, a necessidade irrevogável de praticar a lei divina de amor e caridade, para o progresso da alma.
Não se pode, portanto, conceber o Espiritismo sem a sua parte moral, que
é inseparável da parte filosófico-científica. A opinião que muitos sustentam de que o Espiritismo é contrário ao Cristianismo é não só totalmente infundada, como absurda, para não dizer que seja um produto de arbitrariedade religiosa, como foi, em tempos idos, a condenação de todo aquele que acreditasse que a Terra se movia em torno do Sol.
O Espiritismo, embora não seja uma religião constituída no sentido amplo
da palavra, com culto, rituais, dogmas, templos e clero, é, todavia, uma doutrina que se baseia na existência de Deus, tem Jesus, o Cristo, como seu supremo chefe espiritual e está moralmente alicerçada nas leis divinas. A Doutrina Espírita está irmanada com o humilde Cristianismo do Cristo, dos Apóstolos e dos primitivos cristãos.
Explica Allan Kardec:
"O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos como
qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases
fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura."
O Espiritismo acata a liberdade do pensamento, até mesmo no que
respeita à crença religiosa de cada um. O que se torna importante é que todo o espírita tenha a plena convicção de que ele está neste mundo — como diz
Kardec — para cumprir uma missão, que é a de efetuar o seu progresso
espiritual, sendo a vida material seu campo de experiências.
A crença nos Espíritos existe desde os tempos imemoriais e era comum
entre o povo hebreu na época do Cristo. É já bem conhecido dos leitores do
Evangelho o fenômeno de materialização dos Espíritos por ocasião da
transfiguração de Jesus, estando ele em companhia de Pedro, Tiago e seu irmão João.
Jesus se manifesta depois da sua morte. Entre as suas várias aparições
post mortem, existe aquela que foi a mais comovente, em que Ele se revela a
Maria Madalena, quando ela foi visitá-lo no seu sepulcro e o encontrou vazio.
Quando a viu chorando, aflita, julgando que o seu corpo tivesse sido roubado,
Ele a chamou pelo nome: — Maria! — Mestre! — respondeu ela, aliviada.
Jesus era um Espírito puro o que lhe permitia total liberdade de se
materializar quantas vezes quisesse, a fim de reforçar nos seus discípulos a fé e a coragem para o prosseguimento da sua missão. Jesus foi mais poderoso, mais amado e mais venerado depois de morto do que quando vivo. Todos os
fenômenos narrados pelo Evangelho, incluindo a forma luminosa e etérea e a
voz, como vindo do Além, com que se manifestou a Paulo na estrada de
Damasco vêem corroborar as teses da Doutrina Espírita.
No Espiritismo são minuciosamente explicados os fenômenos relativos à
evolução da alma e o seu destino, embora esses esclarecimentos sejam
erroneamente interpretados pela Igreja como "milagres". O milagre, propriamente dito, significando algo de sobrenatural, não existe. O que existe é uma curta e distorcida visão das coisas que, não obstante serem incompreensíveis à nossa limitada capacidade perceptiva, estão evidentemente dentro das leis naturais.
Temos que partir da premissa, já universalmente aceita, de que nada existe no Universo fora da Natureza.
Uma vez que o Antigo e o Novos Testamentos estão repletos de casos que
envolvem fenômenos espirituais, atualmente explicados e codificados por Allan Kardec, não se vê qual a razão por que o Espiritismo deva ser abominado pelos adeptos do Catolicismo, ou de qualquer outra religião. Vemos que tanto o Catolicismo como o Espiritismo admitem a imortalidade da alma, com a diferença de que a Igreja de Roma condena as almas pecadoras ao suplício do inferno de fogo, enquanto o Espiritismo, mais em harmonia com Jesus, lhes oferece amplas oportunidades de se redimirem, baseado no princípio divino de que todo Espírito, tarde ou cedo, deve alcançar a perfeição, de acordo com a suprema bondade e o amor infinito de Deus.
Desde a sua codificação em 1857 e ao longo de mais de um século de
acerbas críticas e constante perseguição, mas também de impressionante
progresso e firme solidariedade, nenhuma filosofia ou doutrina tem demonstrado maior abnegação, paciência, tolerância, respeito aos seus adeptos e detratores, amor fraternal e caridade, do que o Espiritismo.
Muitos, por desconhecimento, ou levados intencionalmente por pessoas
hostis, misturam o Espiritismo com as artes mágicas, o ocultismo, feitiçaria,
etc., o que serve apenas para confundir a mente das pessoas indecisas e afastá-las do verdadeiro Espiritismo, que, além de ser considerado uma doutrina filosófica e científica, é, para todos os efeitos, uma religião, baseada nas eternas leis de Deus.
No sentido prático, o Espiritismo facilita a compreensão dos Evangelhos,
das previsões feitas por antigos profetas e das empolgantes narrativas dos
tempos bíblicos.
O Espiritismo não está baseado em suposições, nem em superstições,
mas em fatos atestados por homens de elevada cultura e de indiscutível
integridade. Ele abrange o mundo visível e o invisível, a natureza material e a
espiritual, e revela que o "outro mundo" não é apenas um estado simbólico, mas uma autêntica realidade, onde a alma, o ser real, continua a existir. E, acima de tudo, o Espiritismo nos indica o caminho certo a trilhar para a redenção e purificação da alma, pela prática do bem e da caridade, do amor e da fraternidade, revivendo, assim, a eterna mensagem sagrada de Jesus de Nazaré, hoje, infelizmente, quase esquecida.
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