A casa sustentável é mais barata – parte 06 (captação de águas pluviais)
A gente vive num país onde se lava calçada em dia de chuva com mangueira, se empurra as próprias fezes com água potável e, no verão, somos obrigados a chamar um caminhão pipa obviamente.
Observe que toda laje tem naturalmente uma inclinação para escoamento de água da chuva, as calhas coletoras normalmente despejam essa água coletada o mais próximo possível da rua, gramados e até bueiros.
O problema de coletar água da chuva não é nem tanto pela coleta, mas pelo armazenamento.
Instalar calhas é fácil, difícil é manter uma cisterna de uso viável que não tome toda a área útil do terreno.
Caso tenha um quintal-horta, acople outra mangueira à saída da cisterna e fure a mesma ao longo de todo o comprimento, mantendo uma distância de 2 cm para cada furo. Essa mangueira vai irrigar todo o seu quintal-horta, permitindo a melhor forma de irrigação: por gotejamento, sem perda por evaporação.
Vamos aos métodos:
Waterwalls tanks (meu preferido):
Um muro, ou parede divisória, em PVC prémoldado e sem divisórias, onde a água coletada pelas calhas flui por sistemas de vasos comunicantes, mantendo o peso da estrutura distribuído.
Imagino inclusive que possa ser feito a partir de plástico reciclado, basta um bom polímero de alta densidade para aguentar a pressão interna.
Visite o site de um fabricante australiano e descubra como a instalação é simples, rápida e barata.
Os waterwall tanks possuem abertura superior igualzinha a de um cantil plástico, justamente para que a calha coletora seja encaixada. Algumas pessoas deixam as calhas do telhado em nível mais baixo, usando então uma bomba para puxar a água para o waterwall tank, eu acho mais fácil acoplar a calha direto na abertura do tank.
O waterwall tank pode ter função decorativa quando integrado à paisagem e servir de apoio à cercas vivas floridas. Para quem ainda resiste à estética do waterwall tank, deixo como sugestão fazer uma cerca em treliça de pallets e plantar muitas trepadeiras, como hera, açucena e buganvilia para que as plantas tomem a estrutura de madeira. Para saber tudo sobre pallets, veja a postagem A casa sustentável é mais barata – parte 07 (pallets e reels).
As empresas brasileiras que produzem water wall tank, ou a caixa slim, veja a postagem homônima: Tanque (ou caixa) slim, a versão brasileira do water wall tank
O que é realmente usado aqui no Brasil:
Cisternas aparentes ou subterrâneas, vou começar pelas subterrâneas:
Por que eu não gosto?
Porque precisa “quebrar” e é mais caro, além do risco de vazamento que pode vir até a comprometer a fundação da casa. Brasileiro gosta de obra, quanto mais tijolo, melhor e eu falo melhor sobre essa obsessão nacional em duas postagens: “Um país em obras” (o nome já diz tudo) e “Reciclagem de edifícios“.
Gringo gosta de tudo pré-fabricado e de fácil aplicação. Eu fico com os gringos nesse caso, qualquer mocinha instala um waterwall tank, já a cisterna suterrânea vai precisar de meia dúzia de pedreiros, manta de impermeabilização, bomba, alterar a tubulação da casa pelo menos no primeiro andar e pior, veja o que demanda instalar uma cisterna dessas na sua casa, segundo o site da Seferin Arquitetura, que escreve com propriedade e responsabilidade:
“Então, como dimensionar um sistema de coleta de água da chuva?
1) Deverá ser identificado o índice pluviométrico da cidade em questão.
2) Definir qual será a área de coleta. Geralmente é indicado que se faça nas coberturas, mas, a coleta de água das pavimentações também é utilizada, apesar de ser uma água mais suja.
3) Calcular o volume de chuva coletado, por cada mês do ano.
4) Identificar qual será o volume de água reaproveitada. A água, após tratada, poderá ser utilizada na irrigação ou nas bacias sanitárias. Nunca poderá ser utilizada para fins potáveis.
5) A cisterna será dimensionada a partir do cruzamento de duas condicionantes: volume de água coletada X reuso. Somente será coletado o que for utilizado. Deve ser feito um estudo de mês a mês para identificar o período seco e prever o abastecimento da cisterna para esses meses. Por exemplo, em meses em que a chuva não atende a demanda de reuso necessária é primordial prever um acúmulo de água na cisterna nos meses anteriores para poder abastecer o prédio nesses meses de estiagem.
Vale lembrar que o mais caro do sistema é a cisterna e, portanto, é essencial o correto dimensionamento da mesma.
Existem métodos que podem ser utilizados para fazer o cálculo de dimensionamento das cisternas. Em nosso escritório é usado, para cálculo, as planilhas do método de Rippl.
Da captação até a reutilização
Depois de dimensionado o tamanho da cisterna devemos nos preocupar com o sistema de coleta e desinfecção.
Devemos ter consciência de que telhados são sujos por fezes e animais mortos e de que a chuva, em determinadas regiões, é poluída. Mas, geralmente, um sistema de desinfecção por cloro já seria suficiente. Em alguns casos, como em zonas industriais, poderá ser usado um sistema de desinfecção por ozônio ou UV.
Qual o caminho da água até a reutilização?
1) Após coletada a água pela superfície do telhado, ela deverá passar por um equipamento que fará a eliminação da água dos primeiros 15 minutos de chuva. Essa água é considerada muito suja, pois será a água que lavará o telhado. Então, o ideal é eliminá-la.
2) Após passar pelo sistema de eliminação dos primeiros minutos de água, ela deverá passar por um filtro removedor de partículas. Um ótimo equipamento é o filtro de descida Vortex, da Wisy.
3) Após passar pelo filtro, a água passará por um clorador.
4) Por fim, essa água chegará à cisterna. É importante que haja um freio no fim da tubulação de descida para que não ocorram turbulências no interior da cisterna.
5) Essa cisterna deverá ter um extravasor e um ponto de abastecimento com água potável da rede, controlado por um sistema de bóias. Esse sistema assegurará que a cisterna esteja abastecida mesmo em condições extremas de estiagem.
6) Através de uma bomba submersa essa água se transferirá para um reservatório de reuso. Indica-se que sejam utilizadas bombas de pressão e não de sucção, pois exigem menos manutenção.
Cuidados a serem tomados:
Nunca cruzar a tubulação para água de reuso com tubulações de água potável.
Sempre identificar, com sinais, onde existe água de reuso e assinalar que essa água não é potável.”
É de desanimar, principalmente porque não é “necessário”, sustentabilidade ainda é vista como supérfulo e os gastos de uma obra costumam ultrapassar muito a previsão inicial. Como se diz no meio “Obra não se acaba, se abandona”.
Outro método nacional, a cisterna aparente:
Bem intencionado, mas eu prefiro um waterwall tank colorido e integrado à paisagem do que essa caixa d´água imensa (e feia) atravancando a minha passagem. É uma questão de estética, espaço e utilidade: um waterwall ocupa menos espaço, integra-se à paisagem, substitui muros e paredes economizando mais matéria-prima e mão de obra, além de armazenar um volume muito maior de água.
Mais uma vez a questão da “obrinha”, repare na foto que a escada de acesso à habitação foi reconstruída para que a caixa d´água ficasse num patamar próprio e a torneira pudesse então ser girada. Ainda alterou a fachada, impedindo a visão e passagem da porta de madeira antiga e bonita. Pior, a julgar pela cortina atrás da porta, essa saída deve ser na área social de convívio.
Edison Urbano, do site sempresustentável e criador do método de reúso de águas cinzas do chuveiro para descarga, desenvolveu um sistema similar ao descrito acima para captação de águas pluviais, entretanto mais simples. Veja no melhor: Sempre Sustentável \ Hídrica \ Água da chuva
Para grandes edificações, veja a postagem Por que Tóquio não alaga?
“O subsolo de Tóquio alberga uma fantástica infraestrutura cujo aspecto se assemelha ao cenário de um jogo de computador ou a um templo de uma civilização remota. Cinco poços de 32 m de diâmetro por 65 m de profundidade, interligados por 64 Km de túneis, formam um colossal sistema de drenagem de águas pluviais destinado a impedir a inundação da cidade durante a época das chuvas.”
E mesmo contando com a estrutura abaixo, alagou no último tsunami.
http://www.kolmea.me/blog/a-casa-sustentavel-e-mais-barata-parte-06-captacao-de-aguas-pluviais/
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