Cartazes promocionais do livro de V.M. Rabolú
Quem vive em Curitiba já deve ter visto, pelas bancas do centro, cartazes sobre "Hercólubus ou Planeta Vermelho", livro de V.M. Rabolú que alerta sobre a ameaça de um planeta-cometa que há de se chocar contra nós.
Dia desses, Raquel me emprestou a cópia dela e prometi que faria uma resenha. Contudo, não sei se darei conta do trabalho. Essa obra, apesar de pequena, pode ser analisada sob tantos pontos de vistas que, por mais que eu me esforce, sei que estou fadado a falhar.
Sendo assim, gostaria de pedir para o estimado leitor e a querida leitora que, indiferentemente do meu texto, se dê ao trabalho de solicitar uma cópia do livro e tirar suas próprias conclusões. O envio é gratuito.
O ser interno do autor
V. M. Rabolú
A página da Wikipedia sobre o autor do livro é pequena e possui poucas informações. Mas a partir dela descobrimos que V.M. Rabolú é o "pseudônimo" de Joaquin Enrique Amortegui Valbuena: agricultor e ocultista colombiano.
Note que eu não gosto de usar aspas desnecessariamente. Aquelas, do parágrafo anterior, foram muito bem pensadas. Explico: Rabolú era discípulo de Samael Aun Weor, fundador do gnosticismo samaelino. Mas Weor é, na verdade, o nome do ser interno de Victor Manuel Gómez Rodríguez.
Me falta conhecimento ocultista para poder falar mais sobre essa particularidade. Talvez por isso eu tenha achado o detalhe tão artístico, assemelhando-se muito aos seres internos que habitavam Fernando Pessoa, por exemplo, poeta notavelmente e paradoxalmente místico e cético.
Paradoxal, inclusive, pode ser um dos adjetivos que permeiam o texto de Rabolú. Em alguns trechos, o autor — ou o seu ser interno — se contradiz em questão de poucas palavras, chegando inclusive a expor um pouco de ódio nessa mensagem de paz.
É possível traçar mais detalhes da característica psicológica do autor, mas temo ser leviano ao considerar essas suposições como componentes reais e não recursos estilísticos de um escritor que, porventura, queira apenas explorar o limite tênuo que há entre ficção e realidade, sendo que essa última é moldada de maneira ficcional por nosso cérebro real.
Narração febril e concisa
Em Rabolú, "choque de civilizações" ganha novo sentido
Nas poucas palavras que compõem a introdução da obra, Rabolú explica que escreveu o livro enquanto estava "deitado numa cama sem poder levantar nem sentar-me". Mesmo assim, venceu a doença ou indisposição que o acometia e redigiu, com muito esforço, a mensagem que compõem esse livro, dedicando-a à Humanidade, sempre com H maiúsculo.
O tom inicial é de extrema desolação. Rabolú anuncia a existência de Hercólubus, planeta com tamanho de 5 a 6 vezes maior do que Júpiter. Depois, o autor fala sobre o descaso que cientistas e terrícolas fazem do astro que vem em direção ao nosso lar.
É impossível não se lembrar de Melancholia, último filme de Lars von Trier. Mas basta comparar as datas de lançamentos de ambas as obras para saber quem foi que inspirou a quem: a primeira edição de Hercólubus foi lançada em 1998 e a película de Trier chegou aos cinemas apenas neste ano (2011).
O narrador, que ataca de maneira peçonhenta a ciência e as potências mundiais terrícolas, chega a detalhar passos do processo de aproximação do astro invasor em nossos Sistema Solar. Faz, contudo, não com o propósito de aterrorizar, mas de prevenir, já que sofre de angústia pela "pobre Humanidade".
Teria Trier se inspirado no livro de Rabolú?
No geral, a narração é concisa e sem detalhes técnicos que possam explicar ou aprovar a veracidade dos fatos. Rabolú se atém ao alarme e, de maneira quase desordenada, febril, interrompe o assunto sobre o planeta vermelho e passa a descrever a vida e a sociedade de Vênus e Marte, seguindo depois para algumas reflexões sobre a morte e as técnicas de desdobramento astral.
Não fica clara a forma como esses temas se interligam, mas é possível deduzir que o desdobramento é uma das maneiras de se preparar para o inevitável choque de Hercólubus contra a Terra.
Vênus e Marte: sociedades bolsonaristas
Vênus e Marte, nossos vizinhos
Graças a esse desdobramento astral, Rabolú mantém contato com seres extraterrestres, tendo já visitado as sociedades de nossos vizinhos: Vênus e Marte. O escritor diz não ter "palavras para descrever a sabedoria, a cultura e a vida angélica que levam esses seres".
Porém, ainda perturbado pela incerteza que divide realidade e ficção, me sinto um pouco preocupado com esses povos. Logo no início de sua descrição, Rabolú faz questão de ressaltar que em Vênus não existem "barrigudos", emendando logo em seguida que também não se vê "pessoas desfiguradas".
Como se não bastasse, o narrador faz questão de dizer que em tal planeta também não há "fornicação como aqui, pois os terrícolas são piores do que as bestas". Nesse ponto, notei uma espécie de reminiscência da culpa cristã em relação ao sexo, que se confirma quando Rabolú afirma não existir "degenaração sexual como há aqui, que já até os senhores padres estão casando homossexuais, porque o homossexualismo neles não existe. São homens verdadeiros e mulheres verdadeiras".
Cupido, Marte e Vênus, por Paolo Veronese
É claro que não podemos usar o termo "homossexual" — criado pela medicina terrícola para definir supostos desvios de conduta — em uma sociedade tão alienígena. Mas me preocupo pelo ponto de vista de Rabolú.
A vida em Marte é muito parecida com a de Vênus, segundo o autor. Em ambas, a terra é um bem comum e lá não existe o conceito de posse, de "eu tenho algo". Também não são necessários passaportes e permissões para fazer algo ou ir a algum lugar do planeta. Se em Vênus os habitantes usam uniformes, em Marte usam também escudos e capacetes: mas não praticam a guerra entre eles, apenas contra o mal. Infelizemnte, Rabolú não define, em momento algum, o que é o mal.
A morte e o desdobramento astral
De acordo com o autor, quem sonha faz um desdobramento astral involuntário
O capítulo sobre a morte é bastante confuso. Temo não ter a devida formação ou conhecimento para falar a respeito dele. O conceito de alma é traduzido aqui como "Chispa Divina" e o ser humano é comparado a uma árvore. A partir daí, a febrilidade do narrador se torna hermética demais. Resta em minha mente apenas o apelo que se deve fazer quando algum defeito se manifestar por meio da mente, do coração ou do sexo: "Minha Mãe, tira-me este defeito e desintegra-o com a tua lança".
Para a prática do desdobramento astral, Rabolú recomenda a entoação de alguns mantrans, como LA RA S e FARAON. É possível conferir o cantar correto no site da Associação Alcione.
Conclusão metalinguística
Terminei a leitura com a sensação de que li uma obra carregada de referências a si própria, sendo inclinado a considerá-la como um exercício de ficção ou escrita criativa, cujo tema principal é o humor.
Não digo isso como quem quer ridicularizar o livro e seus seguidores, mas me baseando em um detalhe que pode acabar passando despercebido por alguns. Na última capa, V.M. Rabolú escreve:
O que afirmo neste livro é uma profecia a muito curto prazo, porque me consta o final do planeta, conheço-o. Não estou assustando, senão prevenindo, porque tenho angústia por esta pobre Humanidade, já que os fatos não se fazem esperar e não há tempo a perder em coisas ilusórias.
São as últimas palavras que, ao meu ver, denunciam o inteligente teor humorístico da obra. É como se Rabolú, para nos ensinar que não devemos perder tempo com "coisas ilusórias", tivesse nos apresentado uma profecia que é, por si só, totalmente ilusória. A graciosidade dessa metapiada é o que torna o livro tão singular.
O amor que remove montanhas,
o amor que inspira a todos a desejarem um mundo melhor,
o ser humano que ama a todos como a si mesmo,
e que deseja apenas ser . . . ser luz e finalmente
encontrar o Reino de Deus em seu coração !!!
Irene Ibelli
Empreendedora Digital, Humanista e Espiritualista
Eleita Cidadã Planetária Pelo Projeto
Vôo da Águia
Nenhum comentário:
Postar um comentário